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Três Dicas para Ter Conversas Difíceis
Ilustração de Marian Blair

Todos já passamos pela seguinte situação: alguém diz algo com o qual discordamos e, de repente, temos uma decisão a tomar. “Eu falo ou deixo para lá?”

Para muitos de nós, a última opção é a maneira mais simples de manter a paz. Uma vez que são muito comuns discussões que não servem para nada além de arruinar nosso dia, é compreensível quando pensamos: “Não vale a pena.”

O problema é que, sem tocar em temas polêmicos, não se pode fazer, nem dizer muito. Não importa se estamos falando de questões políticas, sociais ou pessoais, nossa capacidade de nos comunicar com calma e reflexão é o primeiro passo para o progresso. Sem isso, o progresso pode ser retardado - até mesmo revertido.

Discutir temas controversos pode ser desafiador, mas existem maneiras de torná-lo mais fácil. Tente manter essas técnicas e conceitos em mente ao ter conversas difíceis.

1. Seja honesto e admita quando estiver errado

Isso pode parecer óbvio, mas no meio de uma conversa aquecida, a capacidade de permanecer autoconsciente é, muitas vezes, a primeira coisa a ser feita. Nós tendemos a nos apegar às nossas opiniões com fervor, especialmente quando desafiados. Isso está tão profundamente enraizado que pode ser difícil aceitar um contra-argumento, mesmo quando sabemos que estamos errados. Com um pouco de prática, no entanto, podemos desaprender alguns dos nossos piores hábitos de comunicação e nos treinar para abordar as coisas de maneira diferente. Aqui estão alguns pontos a serem lembrados:

  • Permanecer no erro é sempre pior do que admitir estar errado. Lembre-se de momentos em que foi corrigido no passado. Não apenas sobreviveu, mas provavelmente ganhou mais do que perdeu. Com um pouco de esforço, você pode começar a ver seu erro como uma oportunidade de aprendizado - uma chance de ser melhor, mais inteligente e ficar mais no caminho certo do que antes. Eventualmente, descobrirá que permanecer no erro por um minuto a mais do que o necessário isso sim, é a perda real.
  • Tenha em mente que você não é sua opinião. Um dos obstáculos mais difíceis aqui é que quando nos mostram que estamos errados, muitas vezes, parece pessoal. Em vez disso, tente pensar em suas opiniões como se fossem suas roupas. De muitas maneiras, o que veste te ajuda a formar seu senso de identidade, mas com o tempo deve superar algumas coisas; pode até olhar para trás um dia e ficar envergonhado com algumas de suas roupas antigas. Independente disso, sempre foi - e ainda é - você por baixo das roupas. Tudo o que mudou e tudo o que vai mudar é o seu estilo.
  • Faz aquilo que gostaria que fizessem com você. Todos nós já nos frustramos com a teimosa de alguém em ouvir a razão. Então, não façamos o mesmo com os outros. Toda vez que admite estar errado ou que não sabe alguma coisa, você está enfraquecendo o estigma que temos em relação a esse comportamento. Quanto mais os outros virem você assumindo seus erros e equívocos, maior é a probabilidade de fazerem o mesmo.

Honestidade e humildade em um argumento o impedem de superestimar sua autoridade e de demonstrar que você não está apenas tentando “vencer.” Em vez disso, você está mostrando que é sobre o que é certo e não sobre estar certo. Se pudermos nos treinar não apenas para perceber quando estamos errados, mas para buscar ativamente nossos próprios erros, nós – e nossas conversas – seremos melhores.

2. Dê aos outros o benefício da dúvida

Entre os maiores obstáculos ao discutir com as pessoas estão as suposições que fazemos. É fácil ver alguém que faz objeções como não apenas incorreto, mas inferior, o que pode tornar a conversa impossível. É por isso que devemos tentar ter compaixão mesmo por aqueles com quem discordamos profundamente e concentrar nossa energia nas discussões e não nas pessoas que os fazem.

Se esperamos mudar mentes, temos que nos esforçar para ver a humanidade em todos. Se funcionou até nas circunstâncias mais improváveis, então também pode funcionar para você. Ao se envolver com as pessoas, tenha em mente:

  • Seres humanos são complicados. Grande parte do nosso discurso público depende da destilação de pessoas, ideias e argumentos em frases de efeito e narrativas facilmente digeríveis. Não caia nessa! Para que conversas difíceis funcionem, lembre-se de que todos têm muitas facetas em sua personalidade. A Regra de Ouro é instrutiva aqui. Certamente gostaríamos que as pessoas com as quais discordam de nós ainda nos vissem como humanos, então devemos fazer o mesmo.
  • Favorecer a compaixão ao invés da condenação. Lembre-se, nem sempre pensávamos o que sabemos agora. Não estamos todos a par da mesma informação nem compartilhamos um único sistema de crenças, educação ou experiência de vida. Todos esses fatores afetam a forma como vemos (ou não vemos) o mundo, por isso é importante levá-los em consideração ao se envolver com os outros. Todos podemos recordar momentos em que alguém nos ofereceu orientação ao invés de condenação e podemos facilmente ver o quão melhor isso fez por nós e pelo nosso crescimento.
  • É sempre mais fácil entender um mal argumento do que compreendê-lo corretamente. É por isso que é importante entender a posição do outro lado. Para isso, tente repetir o argumento da outra pessoa de volta para ela, de uma maneira com a qual ela concordaria. Fazer isso não só garante que chegue de onde partiram, mas também que não esteja perdendo seu tempo em uma caricatura do ponto de vista alheio.

É mais fácil do que nunca para as pessoas entenderem mal e interpretarem erroneamente umas às outras. Dar um ao outro o benefício da dúvida, ter paciência e compaixão por aqueles com visões diferentes e reconhecer que somos todos humanos – com falhas, pontos cegos e preconceitos inconscientes – ajuda a evitar esses erros e tornar as conversas difíceis possíveis.

3. Esteja atento às emoções e ao ambiente

As coisas podem esquentar rapidamente. No momento em que começamos a ficar agitados e levantar nossas vozes, é improvável que ainda estejamos ouvindo – o que significa que a conversa acabou. Para evitar, tente estabelecer alguns novos hábitos:

  • Tome nota dos tópicos que o irritam. Saber, de forma confiável, quais assuntos o tiram do sério permite que você esteja melhor preparado e que fique de olho em si mesmo ao entrar nessas conversas. Além disso, dizer algo como “Isso é difícil para eu falar sem ficar chateado” dá ao seu interlocutor a chance de estar atento e compassivo. Agora todos podem trabalhar juntos para manter as coisas na civilidade e de forma produtiva.
  • Quando se sentir agitado, pare. Reconheça seus sentimentos, faça uma pausa e tente se recuperar. Se se perder e explodir no momento, tudo bem – conversas difíceis são difíceis por um motivo. Perdoe-se e tente abordar a explosão ou comentário negativo assim que puder. Por outro lado, seja generoso quando está do outro lado da hostilidade também é importante. Ofereça aos outros a paciência e o perdão que você apreciaria.
  • Tenha muito cuidado ao discutir em público. É mais difícil admitir que estamos errados na frente de várias pessoas e a probabilidade de ser injusto também aumenta exponencialmente. No online, a contagem de caracteres e o risco de interpretar incorretamente o tom tornam a comunicação ainda mais difícil. Muitas vezes, é melhor mudar para uma mensagem privada ou um bate-papo pessoal. Se isso for uma opção, caso não seja, dobre sua atenção às suas emoções e ao ritmo da conversa. Se estiver constantemente interrompendo, falando um sobre o outro ou respondendo mais rápido do que o necessário para realmente processar o que a outra pessoa acabou de dizer, pode ser uma boa ideia parar.

Pode ser difícil manter a calma, mas praticar a atenção plena e fazer um balanço do seu estado emocional é a chave para manter as coisas no caminho certo. Conversas difíceis em fóruns públicos estão repletas de desafios adicionais, mas também oferecem oportunidades únicas. Mesmo que você não consiga falar com a pessoa diretamente, espectadores e pessoas neutras ou indecisas podem ser movidos por seus argumentos - especialmente se você tentar o seu melhor para ser justo.

Dicas rápidas para conversas difíceis

  • Cuidado com o uso de citações e estatísticas. Elas podem ser muito úteis, mas, às vezes, as estatísticas podem ser enganosas e as citações podem implicar coisas que a pessoa nunca quis dizer. Esses erros não apenas enfraquecem seu argumento, mas também correm o risco de fazer parecer que está agindo de má fé.
  • Escolha metáforas e analogias com cuidado. Todo mundo interpreta as coisas de forma diferente e mudar a conversa para abstrações pode fazer mais mal do que bem. Se você usar uma analogia ou uma metáfora, certifique-se de não simplificar demais e seja honesto caso reconheça lugares onde a comparação não se sustenta.
  • Não sobrecarregue as pessoas com fontes. Com tópicos difíceis é difícil não se referir a artigos, podcasts ou vídeos, mas mantenha essas referências somente se certificar que elas são legítimas e confiáveis, caso contrário aumenta a probabilidade de que fakenews sejam compartilhados e vistos.
  • Cuidado com as falácias lógicas. Esses “erros de raciocínio” ou “movimentos ilegais” nos argumentos, cometidos conscientemente ou não, inevitavelmente desviarão do curso da discussão. É importante estar familiarizado com as várias falácias e gentilmente apontá-las – em si mesmo e nos outros – sempre que ocorram.

Lembre-se do objetivo

Em primeiro lugar, a coisa mais importante a ter em mente é a razão de estar a conversar temas difíceis. Não importa o tópico, o objetivo deve ser a troca honesta de pontos de vista com um espírito de progresso e resolução. Todos devemos realmente querer chegar ao fundo das coisas e aprender o máximo que pudermos porque é assim que crescemos e impulsionamos nossa sociedade.

Para o bem ou para o mal, construímos juntos este mundo. Tudo o que já realizamos e tudo o que ainda temos que realizar, foi e será contingente à nossa capacidade de comunicação. Por mais equivocados que alguns de nós possam ser, a grande maioria das pessoas realmente quer tornar o mundo um lugar melhor. Conversas efetivas são a nossa melhor ferramenta para alcançar esse fim. Embora nunca concordemos em tudo, mas se todos pudermos sermos tolerantes e compreensíveis, há motivos para ter esperança.

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  • Tradução: Patricia Achilles (patyachilles1@gmail.com) 
  • Revisão: Maira Lavalhegas Hallack (lavalhegas@hotmail.com)

Acesse o original em inglês aqui.

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